domingo, 30 de outubro de 2011

Testemunho Helen Berhane – Louvando a Deus em meio ao sofrimento

A Eritréia fica na África, perto da Etiópia, seu presidente instituiu quatro religiões oficiais e nesse país, o  pastor tem que obedecer o presidente e pregar o  que ele quer. Desde 2002, os cristãos nesse país têm sido perseguidos.

Helen que vivia até então num país livre, foi presa e ficou dois anos num contêiner de metal. A Eritréia fica no deserto. De dia é muito quente e à noite muito frio. Não há banheiro, os cristãos são torturados de maneira cruel  e são obrigados a assinar um documento negando a Jesus.

Nesse momento há cerca de 2.000 cristãos presos na Eritréia, também há jornalistas, artistas e presos políticos.

 “Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês mesmos estivessem sendo maltratados.”  Hb 13.3.

Nasci na Eritréia, terminei minha escola primária e colegial lá. Cresci na igreja e quando tinha 14 anos comecei a escrever minhas próprias canções. O homem que era responsável pelo meu crescimento espiritual era um padre da igreja católica e como ele foi transferido para outro lugar, não tivemos mais contato.

O pastor pode mostrar a direção, o caminho, mas nenhum pastor pode colocar comida na nossa boca todos os dias. Agradeço o trabalho daquele padre em ensinar o caminho

A maior parte do meu crescimento espiritual depois disso foi através de livros etíopes e de pregações também. Tive oportunidade de ler o livro “Torturados por amor de Cristo” várias vezes.  E sempre me perguntava: “Quem é a pessoa que pode levar o evangelho a diversos lugares?”

A pessoa que pode levar o evangelho a todos os lugares é aquela que está determinada a isso até a morte. Então eu começava a sair às ruas dizendo: “Não me envergonho do evangelho, porque ele é o poder de Deus.”

Se as pessoas não tem vergonha de falar tanta besteira, porque eu deveria ter vergonha de falar do evangelho? Então satanás arranjou um buraco bem na minha frente para que eu caísse – um casamento arranjado.

Aquele homem não era um cristão e eu estava em Cristo. O que tive de bom nesse casamento foi minha querida filha Eva, mas o casamento não deu certo.

Mesmo assim continuei a orar e estudar a Palavra de Deus. Logo entrei numa faculdade de Teologia. Quando chegamos ao terceiro semestre, fomos convidados a entregar nosso tempo integral para Deus.
Na época eu tinha um salão de beleza muito grande e eu queria vender esse salão para me dedicar integralmente a Deus.

Os líderes da escola chegaram a mim e perguntaram a minha opinião a respeito. Disse para eles o meu projeto de vender o salão para me dedicar a Deus. Eles me apontaram duas coisas: o fato de eu ser mulher e ser divorciada o que me impediria de ser uma pastora.

Disse a eles que minha sede era a de servir a Deus, não de ser uma pastora. Como eles não me aceitaram, voltei para o meu salão de beleza, mas o principal é: Se Deus está te chamando, ninguém pode te parar.
Não reclamei, porque não me acrescentaria em nada.  Quando reclamamos de nossos pastores, estamos produzindo uma geração que irá reclamar de nós.

Há muito trabalho para fazer. A Bíblia diz que os campos estão brancos, mas poucos são os ceifeiros. Então comecei a pregar na principal praça da cidade, nas cafeterias, etc.

E começaram a me colocar na prisão e me soltar, esse episodio aconteceu várias vezes. A última prisão, a mais longa, durou cerca de 32 meses.  Como o governo da Eritréia é uma ditadura, eles fecharam todas as igrejas da Eritréia em 2002.

O motivo pelo qual fui presa é porque lancei um CD. Além do CD também participei de um filme cristão com o título: Evangelho a cura para o mundo.  Depois disso o governo ficou agressivo e começou a me procurar. Encontraram-me numa igreja subterrânea, num porão. Naquele momento eles bateram no  meu corpo inteiro e levaram todos que estavam naquele lugar para a delegacia de policia.

Lá tinham muitas pessoas que haviam cometido crimes e essa situação foi uma porta aberta para pregarmos o evangelho para aquelas pessoas. À noite começamos a cantar louvores. Os prisioneiros naquele lugar já me conheciam de outras vezes e eles me viam como alguém que traria amor a eles.

Tiraram-me dali e uma adolescente de 15 anos quis ir comigo, e ela queria me dar suas roupas, porque estava sem roupas, nos obrigaram a ajoelhar num lugar muito sujo e à noite nos obrigaram a voltar para a cela.

Estou contando isso, porque a prisão também pode ensinar as pessoas a amarem.  Naquela prisão havia muitos jovens,  há maior parte deles haviam fugido do serviço militar.

Havia também muitas pessoas doentes.  Durante a noite não conseguíamos dormir, porque os doentes gritavam muito durante a noite. Um dia tive dor de estomago e fui levada para fora, vi muitos jovens amarrados, perguntei o que havia acontecido com eles, mas não era permitido fazer perguntas.

Quando entrei, uma mulher que já havia participado do serviço militar me explicou que o jeito como eles estavam amarrados se chama helicóptero. Quando me lembro disso, me sinto muito envergonhada, porque às vezes estamos tristes por coisas tão pequenas e existem tantas pessoas sofrendo imensamente.

Entristece-me ver como os lideres podem tratar as pessoas daquela maneira. Começamos a orar e expulsar demônios daquelas pessoas, então nos transferiram para outro lugar. Não imaginava que seria colocada dentro de um contêiner.

Quando aproximamos, vi jovens dentro deles e pequenas janelas, eles abriram as portas e nos jogaram lá dentro. O contêiner estava muito sujo, perguntei ao guarda como poderíamos usar o banheiro, ele nos trouxe um balde.

Já havia aprendido que cristianismo exige sacrifício. A Bíblia tem respostas para todas as coisas e me perguntei: O que a Bíblia tinha a dizer sobre aquilo. As correntes de Paulo e Silas caíram quando eles louvaram a Deus. As muralhas de Jericó caíram quando Israel louvou a Deus. Então convidei as mulheres para louvar a Deus.

A razão pelo qual louvamos a Deus não é porque Ele nos alimenta ou supre nossas necessidades, a razão pelo qual louvamos a Deus é porque Ele já nos deu a vida eterna.

Por isso Paulo de dentro da prisão escreveu uma carta: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez vos digo: alegrai-vos.”  Paulo sabia de onde vinha a paz dele.

Começamos a louvar a  Deus pelo contêiner, pela temperatura, por toda aquela situação difícil.
Assim que começamos a cantar os guardas vieram correndo e começaram a nos interrogar e nos ameaçar. Satanás sabe muito bem que quando uma pessoa louva a Deus no meio da dificuldade, ele é derrotado.
Honramos a Deus quando o louvamos em meio às dificuldades. 

Muitas coisas aconteceram, os guardas fizeram uma divisão entre quem cantava e quem não cantava. Todas as mulheres dentro do contêiner eram cristãs, mas apenas algumas de nós assumiram que estavam cantando. Só sobraram cinco de nós, as restantes foram levadas para o contêiner novamente.

Torturaram-nos muito, e depois de nos torturar disseram que poderíamos cantar bem baixinho. Para nós foi uma surpresa enorme ouvir essa declaração. As prisões da Eritréia são como infernos criados para os seres humanos, por isso não esperávamos uma declaração dessas.

Sadraque, Mesaque e Abdnego  estavam determinados a não se curvarem diante daquele ídolo. E disseram: Mesmo que o nosso Deus não nos salve, não nos curvaremos diante desse ídolo.
Foi mais ou menos a mesma coisa que aconteceu conosco. Decidimos não parar de cantar, e eles é quem tiveram que se curvar.

Se você acreditar na Bíblia, se você for determinado, acontecerá com você como aconteceu com  Sadraque, Mesaque e Abdnego, o quarto homem da fornalha caminhará com você.

Foram dois anos de tortura, nesse interim preguei até para os guardas e como disse a eles que não pararia de pregar, eles me colocaram num lugar onde todos poderiam me ver e começaram a me bater muito. Com um cassetete de policia, me bateram do pescoço até o dedão do pé. O homem que me agredia dizia: “Pare de falar sobre Cristo.” Eu disse: “Tenho uma única palavra, falarei de Jesus até minha morte.”

Ele levantou o cassetete de novo e voltou a me agredir e meu corpo começou a tremer. Como não conseguia mais suportar e eles não queriam que eu morresse na prisão, me levaram para a minha família.
Consegui ir até o Sudão, do Sudão para a Dinamarca e lá recebi vários tratamentos.  Eles me consertaram, como se consertam um carro quebrado. Tudo isso só foi possível porque a mão de Deus estava comigo o tempo todo.

Na Dinamarca não tenho necessidade de nada, mas isso não aconteceu para que me acomodasse, ao contrário, foi uma porta aberta para que eu pregasse em várias partes do  mundo.
Vocês vivem num país livre e essa liberdade deve ser usada para pregar o Evangelho e falem do amor d’Ele. Preguem o evangelho em todos os lugares.

Se eu (Helen) ficar calada e não falar do amor de Deus, o Senhor usa até uma mula. Mesmo se eu não trouxer glória e honra para  Ele, o Senhor já é glorificado e honrado. Se eu não cantar, Ele fará as pedras cantaram para Ele.

Helen Berhane
Edição: Renata G. Santana

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