sábado, 3 de novembro de 2012

Queria Tanto Conversar Com Papai!

Gostaria de bater um papo com papai, mas ele anda sempre ocupado. Ao chegar, está tão cansado que não me atrevo a falar-lhe nada. Pior, se aquela sua ruga no meio da sua testa aparece, sinalizando que algo vai mal. Fico a distância segura. Sem coragem de perguntar-lhe o que está acontecendo. Até poderia participar das decisões da família. Quem sabe, poderia ajudá-lo?

Às vezes, penso que sou o problema. Faço de tudo para ser seu orgulho; mas ele parece não notar e se nota nada fala; talvez para não dar o braço a torcer, manter a autoridade e respeito. Deve ser porque acha que assim serei mais homem. Ele me ama; mas nunca diz nada ou me acaricia. Como ele, calo-me. Papai é bom, dedica-se a família e ama mamãe.

Sinto saudade do tempo de criança. Papai me dava atenção e brincava comigo. Não trabalhava tanto ou tinha tantos cargos na igreja. Jamais esquecerei meus seis anos. Papai se tornou meu herói. Ele me deu algumas bolinhas de gude. Doido por jogar, fugi pra rua disputar com a garotada. A criançada vibrou ao ver-me com o bolso cheio de bolinhas novinhas. Eu seria o “pato”. Os meninos maiores, sem piedade, me “limparam”. Todas as reluzentes bolinhas trocaram de mãos. Foi aí que papai chegou.

Perguntou o que acontecia, vendo minha cara de choro. Com jeito gentil, pediu aos meninos as bolinhas de volta. Os garotos responderam que o jogo era pra valer; eles ganharam as bolinhas justamente. Papai disse-lhes que eu era pequeno e não sabia o que fazia. Eles aproveitaram da minha inocência e falta de destreza para ganhar. Os jogadores ficaram impassíveis. Não devolveriam as bolinhas por nada. Então, papai sentenciou: “Se é justo vocês jogarem com meu filho, é justo que eu jogue contra vocês; vendam-me algumas bolinhas e vamos jogar!” 

Papai seria o próximo “pato”. Perderia bolinhas e dinheiro. Fiquei feliz com a atitude de papai. Os meninos se entreolharam marotos. Iniciando o jogo, alguém gritou rapidamente, “marraio!” O esperto de voz desconhecida seria o último a jogar a bolinha em direção ao risco, o que lhe daria vantagem ao tirar o ponto para começar o jogo. Aquele foi o jogo mais espetacular que assisti. Uma a uma, as bolinhas eram atingidas por papai em “buscadas” certeiras. Eu, e os jogadores, mal podíamos acreditar. Eles perderam todas as bolinhas. Uma lata cheia me foi entregue por papai.

Abracei a lata de Neston, que mal podia carregar por causa do peso. Encarei os meninos, triunfante. Agarrei a mão que papai me estendia como o mais feliz dos mortais. Ainda hoje, lembro dos olhares derrotados e maravilhados dos garotos e sinto enorme orgulho de papai; mas mesmo assim algumas coisas me incomodam.

Por que não consigo dizer a papai o que sinto? Por que ele tinha tempo para mim e está tão ocupado agora que sou jovem? Por que não dá mais para segurar a sua mão e caminhar ao seu lado como naquele dia? Por que com o tempo ele perdeu a alegria e parou de brincar? Por que é tão difícil conversar com ele? Porque ele ficou tão sério e arredio? Por que nossos assuntos se tornaram tão diferentes? Por que ao invés de me defender, papai me culpa por tudo e me dá tanta bronca como se eu errasse de propósito? Por que ele não vê espiritualidade no riso e nas brincadeiras? Gostaria de entendê-lo e conversar com ele.

Deus poderia me fazer entender essas coisas. Poderia me emprestar meu pai pelo menos por um domingo. Poderíamos visitar os lugares da minha infância. Comer cachorro quente e pipoca; remar e andar de bicicleta; chutar bola e mergulhar no rio; soltar pipa e subir numa árvore. Eu poderia correr para os seus braços fortes; ele me rodaria no ar até eu ficar tonto; nossas risadas se casariam, e eu beijaria seu rosto, mesmo sendo arranhando por sua barba; seria divertido. Pena que tudo acabou! Éramos felizes! Papai era bem mais meu. Eu não o dividia com ninguém.


Pr. Silmar Coelho
Casado com Janice Coelho, é pai de Tiago, Filipe, Lucas e Cristine. Doutor em liderança pela Universidade Oral Roberts, Tulsa/ USA. Escreveu vários Best-Sellers.  É escritor premiado, músico, compositor e pastor há mais de 39 anos. 

www.silmarcoelho.com.br
Twitter: @silmarcoelho 
Facebook: pastorsilmar


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